ENTREVISTA COM CANTOR ALEC.

Existe uma força silenciosa na arte de transformar sentimentos em palavras. E quando essas palavras ganham melodia, elas se tornam abrigo, memória, viagem. Alec’ é esse tipo de artista, que canta como quem escreve cartas, que compõe como quem abre um livro cheio de páginas vividas.

Em seu novo EP, O Menino Que Cantava Livros, Alec’ nos convida a mergulhar em quatro histórias que se entrelaçam como capítulos de uma narrativa íntima e pulsante. Com batidas que passeiam pelo rap, funk/soul, pop eletrônico e reggae, o artista mineiro constrói um universo onde a imaginação é livre, a leitura é ponte, e a música é cura.

Mais do que um lançamento, o projeto é um gesto: a cada 10 pré-saves, um livro será doado para jovens, reforçando o poder transformador da arte e da educação. E como se não bastasse, cada faixa ganhará vida em visualizers animados, ampliando ainda mais essa experiência sensorial.

Alec’ é voz nova, mas já carrega a maturidade de quem sabe que vulnerabilidade é força. Conversar com ele é como folhear um diário, cheio de verdades, sutilezas e coragem. E foi exatamente isso que aconteceu nesta entrevista.

É uma honra ter você aqui no site Maah Músic. Para começar essa entrevista, queremos fazer uma pergunta que já é clichê por aqui: o que a música representa na sua vida?

Boa tarde, a honra é toda minha, obrigado pelo convite! A música na minha vida representa a transformação do meu lado sem rumo para o lado que eu me reconheço. É difícil colocar em palavras o quanto a música me transformou e me transforma. Existe o meu eu vazio e que abriu mão das suas convicções para seguir um caminho que não me define e existe o meu eu com música. Resumidamente, a música representa na minha vida a própria essência do que eu sou.

Alec’, o EP O Menino Que Cantava Livros transforma histórias em música. Como surgiu essa ideia de criar um “livro vivo” em forma de canções?

A ideia surgiu de anos atrás, antes de lançar minha primeira música de fato. Eu sempre gostei do lúdico. Eu sou um “entusiasta” da criatividade e sempre adorei escrever histórias. Grande parte das músicas do EP estão escritas no meu caderno da escola de 2021. A ideia de fazer o EP surgiu para realizar o sonho do Alec’ do passado e ver minhas histórias ganhando vida, sonora e visualmente é inenarrável.

Cada faixa do EP representa uma história. Existe alguma que você considera mais pessoal ou que te emocionou mais ao compor?

Todas as faixas representam muito pra mim, mas definitivamente “O Fantasma da Ópera” foi a que eu mais me emocionei compondo e cantando. Trazer essa mensagem de amar tanto alguém e se encontrar distante por algo tão implacável quanto a morte me trouxe sensações complexas, quase esquisitas. Pude abordar de diversas formas essas reflexões que tive enquanto escrevia. De um lado, quis contar um pouco de como seria se eu morresse, que mensagem eu gostaria de deixar para quem amo e de que forma eu contaria que eu vou continuar cuidando dessas pessoas, mesmo em outro plano. Por outro lado, também busquei refletir sobre a forma que dói ver alguém partir e continuar amando essa pessoa incansavelmente, dia após dia, mesmo depois de falecida. Enquanto eu escrevia, sentia que poderia compor e cantar horas ali sem se cansar. Foi muito emocionante.

Belo Horizonte aparece como pano de fundo do projeto. Como a cidade e suas vivências influenciam sua sonoridade e narrativa?

Belo Horizonte é uma cidade que eu presencio fatores importantes da minha vida e foi onde eu vivi algumas “viradas de chave”. Aqui é a cidade onde eu presencio e desenvolvo o meu lado acadêmico e isso me faz lembrar, e muito, do Alexssandro. A cidade é importante para mim pois não me deixa esquecer quem eu fui, os meus erros e os momentos em que falhei comigo mesmo. Além do acadêmico, também é um dos pontos em que desfruto da cultura, principalmente das batalhas de rima. Eu vim de Barbacena, interior de Minas Gerais, onde um grupo muito pequeno se esforça para manter a cultura hip hop viva todos os dias. Ver como as coisas se movem autos sustentavelmente aqui na capital me traz esperança, ânimo e oportunidade para fazer acontecer!

Você mistura boom bap, R&B, jazz, MPB e pop alternativo. Como você encontra equilíbrio entre tantos estilos sem perder sua identidade?

Minha identidade é encontrar o equilíbrio entre esses gêneros. Nem sempre apenas equilíbrio, busco não me limitar a um gênero em específico. Eu quero fazer música de uma forma que ninguém faz. Gosto de fazer o que eu sinto e muita das vezes meu instinto me guia muito nesse sentido. A mistura desses gêneros é uma das chaves para eu ter uma identidade.

A campanha de doação de livros é linda e potente. Como a leitura impactou sua vida e por que ela é tão importante na sua trajetória artística?

A leitura é muito presente na minha vida e me inspira muito nas minhas obras. Eu comecei a ser muito ativo como leitor a partir das histórias mitológicas. Mitologia Grega, romana, egípcia, nórdica… quando eu tinha 12 anos eu passava horas estudando e lendo os contos e histórias inspiradas, principalmente as escritas pelo Rick Riordan. Depois disso, comecei a pegar gosto pelas histórias que faziam meus olhos brilhar. Eu adorava a criatividade, a lucidez, o mistério e a estranheza das coisas que eu lia. Eu adoro ler sobre coisas estranhas e diferentes, que a princípio não são vistas no nosso mundo. Coisas que apenas a imaginação é capaz de proporcionar. Isso me motivou a escrever minhas próprias histórias e despertar o sentimento que eu sentia lendo esses livros. A leitura sem dúvidas foi crucial na minha carreira.

Você tem colaborações com Sazack e Karnival nesse EP. Como esses encontros criativos aconteceram e o que cada artista trouxe de especial para as faixas?

Meu encontro criativo com Sazack e Karnival ultrapassa o limite “profissional”. Eu os conheci por acaso, no começo da minha carreira. Quando minha primeira música viralizou eu recebi uma mensagem do Karnival me parabenizando e elogiando meu trabalho. Através dele conheci o Sazack e, desde então, nos tornamos inseparáveis. Nós e mais alguns artistas formamos um grupo inseparável e que divide valores importantes em relação a música e vida como um todo. Os dois são como meus irmãos. Admiro e me inspiro muito no trabalho que eles fazem. Passamos muito tempo conversando sobre música e histórias e em alguns desses momentos discutimos contos que seriam incríveis de serem contados. Daí surgiu as histórias e mensagens que são passadas em cada faixa. Eles trouxeram de especial para o ep o que eles têm de melhor: paixão pelo que fazem. E como consequência disso, eles são os melhores. São as duas pessoas que eu conheço que mais amam música e são os dois melhores fazendo isso. Tenho respeito e admiração por ambos.

Suas músicas têm uma escrita que parece um diário íntimo. Como você lida com a vulnerabilidade de se expor tanto nas letras?

Muitas das vezes é difícil, porque dói muito. Me sinto carregando uma grande responsabilidade ao passar essas dores para outras pessoas, mas é necessário. Se eu não me despir, não me mostrar vulnerável e apresentar o lado mais verídico do que eu sou eu perco minha identidade. Com o tempo, eu percebi que contar minhas vivências dessa forma trouxe conforto para outras pessoas que sentiam o mesmo, mas não sabiam como externalizar. Com o alcance que estou construindo, eu carrego a responsabilidade de dar voz àqueles que não sabem como gritar e receber mensagens e agradecimentos em relação a isso tornam essa exposição um pouco mais fácil.

O que você espera que o público sinta ao ouvir O Menino Que Cantava Livros? Existe alguma mensagem que você gostaria que ficasse no coração de quem escuta?

Eu espero que eles sintam o que eu senti lendo os livros quando criança. Espero que se sintam inspirados, que desfrutem de suas imaginações e viajem para mundos que ainda não existem, estão apenas esperando para serem criados. A mensagem que eu gostaria que ficasse no coração de quem escuta é: não se perca no cinza da realidade. Ela também pode ser colorida, cativante, divertida e mágica. Tragam de volta o brilho no olhar de uma criança conhecendo o desconhecido. Nós vivemos no mundo em que imaginamos que ele é. Então por que não tornar ele mágico?

Alec’ não apenas canta livros, ele escreve com a voz, desenha com os sentimentos e transforma memórias em trilhas sonoras. Em cada faixa do EP O Menino Que Cantava Livros, há um convite para olhar para dentro, para lembrar, imaginar e sentir.

Com uma entrega sincera e uma estética que mistura o urbano com o íntimo, Alec’ reafirma que a arte é ponte, é cura, é caminho. E que a leitura, assim como a música, pode mudar destinos.

Ao final dessa conversa, fica claro: Alec’ é mais do que uma nova voz da cena, é um contador de histórias que canta com o coração aberto e a alma em movimento.

Vamos finalizar com música o post, ao som do EP O Menino Que Cantava Livros.

Instagram do artista:
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Sobre Mim

Maah Music

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